gerente de projeto
Que competências são importantes para o sucesso de um gerente de projeto?
“É preciso ser sincero, honesto, transparente.
O líder tem de dar ao grupo o que ele precisa, não o que ele quer.
Tem de satisfazer às necessidades, e não os desejos.
É fundamental consquistar a confiança da equipe e conhecer seus limites.
Não interferir no poder do outro, deixá-lo trabalhar.
As pessoas precisam ser encorajadas.”
Carlos Alberto Parreira
1.Bom comunicador
O gestor deve ter grande habilidade para se comunicar, tanto oralmente quanto por escrito, transmitindo e recebendo mensagens dos demais membros da equipe e dos interessados. Comunicar é um processo bi-direcional: não basta enviar a mensagem, é crítico que ela seja recebida corretamente.
Falar é fácil. Quero ver você se comunicar.
Comunicação não é o que você diz, mas o que o outro entende do que você disse, não basta apenas olhar para a mensagem em si mas também o contexto em que foi dito: há a comunicação verbal que traz 30% da informação, o restante está no tom de voz e na sua postura ao se expressar que compõem a comunicação não-verbal que carrega 70% da mensagem.
Além disso, considere as diversas técnicas de comunicação eficiente tais como a Comunicação Não Violenta (Non Violent Communication) desenvolvida por Marshall Rosenberg que dá ênfase a empatia entre os que se comunicam.
2.Verdadeiro líder
Ser líder não tem nada a ver com “chefe”, liderar é motivar, é mostrar como se fez pelo exemplo. Por líder entende-se alguém que:
tenha um senso claro de missão a cumprir, com foco e comprometimento,
sirva de modelo ao personificar os valores que defende,
seja capaz de ter empatia para se colocar no lugar do outro,
seja orientado a resultados, objetivo e com boa maturidade emocional e
seja admirado por sua equipe, seja por sua capacidade, seus valores éticos ou por seu humanismo. É muito melhor trabalhar para atingir as expectativas de alguém a quem se admira.
3.Organizado
Uma pessoa organizada sabe identificar rapidamente suas prioridades. O bom gestor deve gerir bem seu tempo, o ativo mais valioso. Há várias técnicas para isso. Uma técnica que eu uso frequentemente é a Matriz de Eisenhower em que se classifica cada tarefa segundo a urgência e a importância. O que é importante e urgente merece minha atenção imediata, o que é importante mas não urgente deve entrar na fila de trabalho ou pode ser delegada. Se a tarefa é urgente mas não importante, delegue. As demais tarefas que não são nem urgentes nem importantes vão para o fim da fila, se sobrar um tempinho, ou devem ser simplesmente abandonadas.
4.Bem relacionado
Conhecer as pessoas certas dentro da organização pode ser a diferença entre ter o seu orçamento cortado ou protegido, parte do trabalho do gestor é "vender" os bons resultados de seu projeto aos níveis superiores da organização. Networking é uma tarefa rotineira para o gestor, abra espaço na agenda para praticá-la regularmente.
Contatos mutuamente proveitosos?
Um bom relacionamento com todos, especialmente com os tomadores de decisão, é importante para você ter acesso quando precisar defender uma proposta ou um orçamento para o projeto. Existe uma distância entre empático e sicofanta ("puxa-saco"). Mantendo-se orientado por dados e fatos objetivos, você evita perder o controle da situação mantendo suas emoções em xeque. Mesmo diante de um profissional que você admira é importante manter a compostura sóbria para criar um clima de segurança em que assuntos importantes e delicados possam ser tratados.
Veja como os executivos abordam o CEO da sua empresa, provavelmente todos adotam esta "reverência estudada" por que mesmo demonstrando respeito não deixam de colocar suas posições. Desnecessário dizer que os "yes-men" (pessoas que concordam com tudo) têm vida curta nas altas esferas de organizações saudáveis.
5.Dominar as técnicas de negociação
Há técnicas bem estabelecidas para se negociar com inteligência e objetivo. Numa negociação, a percepção de valor é fundamental: você precisa conhecer os interesses e necessidades do outro lado para elaborar uma proposta vencedora.
Também é importante que o negociador tenha como meta sempre o “ganha-ganha”, em que os dois lados saiam ganhando, mesmo quando um lado poderia impor a sua vontade ao outro. O mundo gira e você um dia pode estar no lado de baixo...
Na próxima negociação, ao invés de pechinchar tente extrair mais do outro lado pelo mesmo valor, para ele o serviço adicional que ele lhe prestará pode custar menos do que o valor que você iria pedir de abatimento e ambos saem satisfeitos. A alternativa do "eu ganhar em cima de você" sempre deixa ressentimentos e baixa produtividade.
6.Ser engenhoso
Engenhoso, ou criativo, o gestor deve ser ágil para buscar alternativas quando surge um problema. Aqui costuma existir dois caminhos: ser o gestor ele mesmo um especialista e/ou ter contato com especialistas.
Preciso ser um especialista?
Entender bem do assunto ajuda na hora de decidir, assim muitas empresas procuram profissionais com experiência na área do projeto que deve comandar mas não é a solução definitiva: entre um especialista que se comunica mal e um leigo com grande habilidade de fazer todos trabalharem juntos, eu não tenho dúvida de que o leigo é a uma melhor escolha. Pense nos CEOs das empresas: os melhores são os que integram interesses diversos, sem ser necessariamente especialistas em cada assunto. Tanto o CEO quanto o gestor de um projeto têm de entender muito mais de gente do que de tecnologia, finanças ou marketing. Tem de ser especialista em gente.
Quanto à opção pelo aconselhamento de especialistas, isso depende da capacidade de networking do gestor em criar e manter relacionamentos, mas cuidado: não basta “saber quem sabe”, há que se alinhar os interesses dos especialistas com o do projeto. É importante entender se há interesses não revelados ("hidden agenda") por trás do aconselhamento e, se necessário, até confrontar o especialista a mostrar que não tem outros interesses.
7.Ter iniciativa própria
O gestor deve ser pró-ativo e tomar as iniciativas que julgar necessárias para atingir os objetivos do projeto. Em inglês se diz que a pessoa é um "self-starter", ela tem a motivação necessária para se "auto-iniciar". Cabe lembrar que um tipo de liderança muito autoritário ou detalhistas, onde o gestor se envolve nos detalhes de cada tarefa, restringem o espaço de tomada de iniciativa pelo integrantes da equipe. Assim um gerente muito "forte" costuma estar cercado por bajuladores sem iniciativa e que aceitam qualquer ordem sem questionar.
A cultura estimula a iniciativa e riscos calculados?
Em empresas competitivas pessoas com iniciativa são reconhedidas e têm mais chances de ter uma carreira de sucesso. Em outros contextos profissionais, a iniciativa não só não é da cultura da organização como também pode gerar ciúmes e rivalidades nas quais colegas criam obstáculos para não parecerem inertes (em comparação). Neste caso é necessário assumir um perfil mais modesto (“low-profile”) e dar pouca atenção às fofocas para se proteger desta energia negativa mas sem deixar de tomar iniciativas que podem ajudar o projeto. Em todo caso, acostume-se sempre a trazer um problema com diversas opções de solução, nunca apenas o problema. Em todas as organizações pessoas com soluções vão mais longe do que as que só trazem problemas.
Pessoas tímidas podem ter dificuldade em abordar uma pessoa que esteja com desempenho fraco para cobrar resultados. O gestor não pode ter este tipo de limitação emocional, mas também não precisa ser a pessoa mais popular do projeto, como se fosse o "rei da festa". Ele precisa ter iniciativa para agir a partir dos dados de desempenho coletados mas com segurança, sem o receio de ser mal recebido pelos demais stakeholders.
8.Ético
Ao respeitar as regras de conduta da profissão e as normas do grupo, o gestor é mais respeitado por sua equipe. Algumas empresas têm um Código de Ética bem definido, de forma que todos sabem os limites aceitáveis. Na falta deste documento, as associações de gestores de projetos (como o PMI, Project Management Institute) costumam ter regras para seus associados (veja o documento do PMI).
Apesar de não termos tido bons modelos em nossos líderes políticos, a ética é importante. É ela que nos protege da cobiça alheia desenfreada e dá chances a todos de competir. Sem ética, o grande quebraria o pequeno, o forte subjugaria o fraco e o mundo seria um lugar pior para todos, mesmo para os fortes e poderosos.
Na ausência de regras claras, pode-se aplicar um princípio ético nos foi legado pelo filósofo alemão Emanuel Kant: "Haja como se suas ações fossem se tornar normas de conduta para todos". Assim, por exemplo, matar é condenado pela ética dos seres humanos pois ao aceitar matar o outro você tem de aceitar ser morto.
Mas Kant era um pensador muito elevado quem nem sempre é claro então sempre me lembro de um sábio colega de profissão que me deu a sua versão desta regra: "Haja de forma a poder explicar para a seus filhos o que você faz, sem passar vergonha". Se todos agissem assim, você pode imaginar como o Brasil seria melhor?
Conclusão
Uma pessoa que tenha todas estas habilidades costuma ser um bom gestor de projeto. É difícil escolher uma entre todas estas habilidades como a mais importante. Se eu tivesse que escolher provavelmente diria que a mais importante habilidade é ser um bom líder porque as demais nascem desta necessidade. Você precisa se comunicar bem para poder liderar. Você precisa saber cumprir prazos e atender às expectativas dos seus pares para ter uma liderança legítima. Você precisa ter iniciativa para se antecipar e prever eventuais problemas que sua equipe possa ter. Você precisa ser ético para ser respeitado como líder. Finalmente, você precisa saber negociar para influenciar as ações e decisões na direção que seja a melhor para o grupo.
Para saber mais...
Agora você pode estudar um pouco mais os documentos fundamentais para uma boa gestão. Para uma visão geral, leia 7 Passos da Gestão de Projetos. Boa Sorte!